Nesta campanha da Organização Mundial de Saúde para a conscientização sobre Suicídio, cabe também o olhar sobre a população mais idosa, buscando os recursos da Psiquiatria associados aos cuidados paliativos.
Naturalmente, o envelhecer faz com que a percepção das mudanças corporais seja mais presente, com redução da força muscular, da agilidade e desenvoltura na realização de algumas tarefas. Estas percepções, quando são sentidas como deficiências, podem gerar sentimentos de menos-valia, angústia e ansiedade, culminando em quadro de depressão.
Quando ocorrem simultaneamente outras doenças crônicas associadas, como diabetes, hipertensão arterial, doenças autoimunes, câncer, é bastante frequente e acentuado o humor deprimido em algum período do adoecimento. Nestas condições, podem ocorrer pensamentos suicidas, sem ou com planejamento, gerando muito sofrimento para o paciente e seus familiares.
Portanto, é muito importante observar as condições de vida do idoso, para que seja buscada ajuda profissional nas especialidades médicas como geriatria, psiquiatria, cuidados paliativos, o mais breve possível, para haver uma abordagem interdisciplinar daquele caso, além de orientação aos familiares.
Com as mudanças causadas pela gestão da pandemia ao longo destes 18 meses, também os idosos foram afetados de forma especial. Para evitarem o contágio pelo coronavírus, muitos idosos tiveram que permanecer mais distantes da família. Por outro lado, sofreram pela falta de convívio e trocas afetivas, além da redução de movimento físico e espontaneidade nas relações interpessoais, devido à tensão e medo.
Neste novo momento, precisamos sinalizar para os idosos com mais segurança, que há esperança e possibilidade de se manter a saúde física e mental, sempre a partir de um planejamento terapêutico individual.
Assim, para superar a tristeza, o desespero e a ideação persistente sobre a morte, que provoca tanta angústia, além do tratamento médico adequado, há muitos recursos terapêuticos que podem ser associados. A busca pelo autodesenvolvimento é o grande motivador para transpor este estágio de dor.
Na psicoterapia, é fundamental revisitar a biografia daquela pessoa. Dando a oportunidade de relatar lembranças dolorosas, pode-se alcançar a superação de mágoas e ressentimentos, que tanto pesam no mundo interior, tornando-o acinzentado e frio. O perdão ao passado é o caminho de reconciliação com a vida presente. Quando o paciente desperta para esta realidade, a gratidão ilumina o coração e o amor se manifesta. A meta se torna estar em paz, aqui e agora.
As Artes como pintura, escultura, música, poesia são elementos essenciais para trazer leveza e alegria para o ser humano, assim como o cultivo da espiritualidade fortalece a coragem para enfrentar os desafios, além de tornar mais claros os propósitos existenciais.
Progressivamente, pode-se, nesta jornada de autoconhecimento, compreender que, diante da finitude da vida biológica, sobrepõe-se a eternidade, a vida espiritual em plenitude. Que esta mensagem seja um convite para alcançá-la.
Dra. Ana Cristina C. L. Malheiros
