Quando escutei esta expressão pela primeira vez, a imagem que me ocorreu foi da primavera e as flores, principalmente, das árvores de ipê amarelo, que nas ruas e parques de Curitiba se espalham e enfeitam, generosamente, a paisagem.
Mas, evidentemente, não se trata disto e, sim, algo bem diverso. Este é o sinal amarelo de alerta dado pelo Ministério da Saúde relativo à Campanha Nacional de Prevenção de Automutilação e Suicídio.
Infelizmente, são crescentes as estatísticas nestes 18 meses de pandemia, indicando que cada vez mais adolescentes e jovens recorrem a estas atitudes de autoagressão. Muitos deles dizem que o fazem para buscar alívio da ansiedade, angústia e sofrimento emocional.
Diante desta situação que afeta também os familiares, amigos e professores destes jovens, toda a sociedade entra em comoção.
Quais são as nossas reflexões? O que causa tamanho desespero? Por que alguém buscaria aliviar uma dor emocional causando uma dor física, ou até mesmo, a própria morte?
Certamente, o jovem em questão não consegue enxergar outra forma de lidar com a situação que o amedronta ou o aflige. Sente-se solitário e angustiado, sem encontrar saída do labirinto por si mesmo, quadro intensificado pela pandemia, pelo medo e pelo confinamento.
Então, é muito importante que aqueles que convivem com jovens estejam atentos às mudanças de comportamento, principalmente relativas ao isolamento social e ao silêncio.
Em geral, o jovem não irá buscar ajuda espontaneamente, pois se tivesse esta capacidade, não chegaria a este ponto extremo. Portanto, sugiro que os adultos não esperem por manifestações com frases prontas, bem elaboradas: é preciso perceber gestos e sussurros.
Busquem olhar nos olhos do jovem. Esta é a comunicação mais poderosa que existe!
Assim, acolhê-lo e sensibilizá-lo para buscar ajuda profissional é um grande passo para recuperar o equilíbrio emocional a partir do tratamento.
O adolescente e o jovem já vivenciam, naturalmente, uma fase turbulenta do desenvolvimento, quer seja pelas alterações hormonais, quer seja pelas inquietações psicológicas. Portanto, conversar com naturalidade sobre estas características e assegurá-los de que têm dificuldades e potenciais a serem harmonizados, poderá deixá-los mais calmos e confiantes.
Ampliando o questionamento, como a família, a escola e sociedade podem contribuir para modificar esta realidade?
Ao invés de “problematizar”, seria importante tornar o contexto atual mais compreensível e receptivo à participação criativa dos jovens. Apresentá-los às Artes, como música, pintura, teatro, literatura, tanto os alimenta animicamente, quanto lhes possibilita ter recursos de expressão e de interação em grupo.
A prática de esportes também contribui para o desenvolvimento físico e psíquico, gerando autoestima e força de superação.
Penso quantas outras possibilidades ligadas à vida e à saúde nós poderemos demonstrar para encorajá-los a superar os desafios pertinentes à existência humana.
Mas acredito que é imprescindível darmos exemplos coerentes, evidenciando no nosso dia-a-dia a Confiança, pelo cultivo da espiritualidade, a Interação, pela capacidade de dialogar e o Autoconhecimento, como caminho existencial.
Assim, proponho a revisão de rota da humanidade a partir de cada um de nós, pois somos seus representantes. Diante do jovem, que nova atitude poderemos ter para incentivá-lo a crescer e se tornar um ser humano pleno, livre e capaz?
Ao enfrentar as contradições e perceber as oportunidades inerentes à sociedade atual, precisamos aspirar pela Verdade e praticar o Bem, tendo a coragem de trazer para a vida social este ser humano pleno, livre e capaz, por nossas próprias mãos, conscientemente.
Sabendo que a vida é tão grandiosa, eu me inspiro na natureza e, sinceramente, tenho a esperança de que setembro amarelo se torne mesmo a estação da primavera, fazendo florescer o coração da Juventude.
Dra. Ana Cristina C. L. Malheiros
Micael
“Triunfante espírito,
Inflama a potência das almas hesitantes.
Queima o egoísmo,
Acende a compaixão,
Para que o altruísmo,
Corrente vital da humanidade,
Jorre como fonte do renascer espiritual.”
Rudolf Steiner 1919
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