Sabemos que a gestação é período especial na vida da mulher, sendo vivido, em geral, com grande expectativa em meio ao aconchego de amigos e familiares.
Porém, devido a vários fatores, como questões sociais, preocupações financeiras, características de personalidade, podem ocorrer ansiedade e depressão durante e após a gestação.
O impacto do estresse materno
Pesquisas anteriores haviam ligado o estresse, a ansiedade e a depressão em mulheres grávidas a problemas emocionais, sociais e de comportamento em seus filhos quando forem mais velhos.
Estudos clínicos apontaram déficits neurocomportamentais, como coordenação motora prejudicada, reatividade emocional alta e atrasos linguísticos em crianças nascidas de mães ansiosas.
De modo frequente, o estresse na gravidez pode causar alterações hormonais, na pressão arterial e sistema imunológico da mulher, prejudicando o desenvolvimento do bebê e aumentando o risco de infecções, além de favorecer o parto prematuro e nascimento do bebê com baixo peso.
Portanto, é importante entender os reflexos da condição psíquica da gestante sobre o desenvolvimento fetal, conforme descrito nos artigos científicos a seguir:
1) “Association of Prenatal Maternal Anxiety With Fetal Regional Brain Connectivity”: https://jamanetwork.com/journals/jamanetworkopen/fullarticle/2773772 Artigo publicado em 07/12/2020
O estresse de uma mulher durante a gravidez pode afetar o desenvolvimento do cérebro do bebê ainda não nascido, de acordo com estudos baseados em exames cerebrais realizados em fetos.
“Níveis tóxicos de ansiedade…aparentam ter efeitos diretos na forma com que o cérebro do feto está sendo esculpido e organizado no útero,” disse a autora do estudo, Catherine Limperopoulos, que dirige o Instituto de Desenvolvimento do Cérebro no Hospital Infantil Nacional, em Washington D.C., nos Estados Unidos.
“O que a gestante está vivendo, o bebê está vivendo também”, disse Limperopoulos.
Um nível “tóxico” de ansiedade no estudo era definido como “quando os níveis de estresse interferem na habilidade de uma mulher de cumprir seu cotidiano, seus papéis e responsabilidades, mas não o suficiente para um diagnóstico clínico como uma patologia mental ou um transtorno”. (https://www.cnnbrasil.com.br/saude/estresse-durante-a-gestacao-podem-afetar-o-cerebro-do-bebe-segundo-pesquisas/)
Foi observado que fetos de gestantes com níveis mais altos de ansiedade eram mais propensos a ter conexões mais fracas entre duas áreas do cérebro envolvidas em funções executivas e cognitivas superiores e conexões mais fortes entre partes do cérebro conectadas a controles emocionais e comportamentais.
2 ) “Association of Prenatal Maternal Psychological Distress With Fetal Brain Growth, Metabolism, and Cortical Maturation” – Artigo publicado em 29/01/2020
Este estudo de Limperopoulos aponta que altos níveis de estresse durante a gestação atrapalham a bioquímica do cérebro do bebê e o crescimento do hipocampo – área do cérebro associada à formação de novas memórias, ao aprendizado e às emoções.
3 ) “Maternal Stress Before Conception Is Associated with Shorter Gestation” https://academic.oup.com/abm/advance-article-abstract/doi/10.1093/abm/kaaa047/5873717?redirectedFrom=fulltext Artigo publicado em 20/07/2020
O estresse também foi ligado a partos prematuros. Mulheres que se sentiram sobrecarregadas durante os meses, e até anos, antes da concepção tiveram gestações mais curtas que outras mulheres
“Cada dia no útero é importante para o crescimento e desenvolvimento fetal”, disse a professora Christine Dunkel Schetter, que leciona psicologia e psiquiatria e pesquisou o assunto durante anos no Laboratório de Processos de Estresse e Gestação, na Universidade da Califórnia, em Los Angeles.
“Crianças prematuras têm riscos maiores de resultados adversos no nascimento e mais tarde na vida, do que bebês nascidos mais tarde – inclusive de desenvolvimento de deficiências e problemas de saúde física.”
4) “ Prenatal maternal stress prospectively relates to shorter child buccal cell telomere length” https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0306453020302638 Artigo publicado em nov/2020
Neste estudo, foi constatado que o estresse materno – mesmo antes da concepção – pode diminuir o comprimento dos telômeros dos bebês, uma estrutura composta do DNA localizada nas pontas de nossos cromossomos, responsáveis por proteger nossas células do envelhecimento enquanto elas se multiplicam.
Telômeros menores foram ligados a um maior risco de desenvolvimento de doenças cardíacas, câncer e morte prematura.
“O que nossa pesquisa nos diz é que provavelmente fatores ambientais e maternais desde a gestação podem influenciar como uma pessoa começa a vida, o que pode a programar para envelhecer mais rápido”, disse Judith Carroll, autora do estudo e professora associada de psiquiatria e ciências biocomportamentais no Instituto Semel de Neurociência e Comportamento Humano na UCLA.
Gestação e Estresse na pandemia
“A ligação entre o estresse e o desenvolvimento cerebral fetal é excepcionalmente aterrorizante para mulheres que estão grávidas durante a pandemia”, Limperopoulos argumentou, posto que sua pesquisa indicou que o estresse em gestantes durante a era da Covid-19 duplicou.
A pesquisadora ressalta que “ é muito importante que alertemos as mulheres para o fato de que níveis altos de estresse podem ter efeitos no desenvolvimento de seus filhos, e dirigi-las a recursos que possam ajudá-las a lidar melhor com a ansiedade durante essa pandemia e depois”.
Estresse em gestações de baixo-risco
A lição mais importante destes estudos é que os fatores de risco do estresse, da ansiedade e da depressão são modificáveis, 75% das mulheres que estão experienciando problemas de saúde mental durante a gravidez não recebem um diagnóstico porque não existem buscas sistemáticas para esses problemas.
Diante da gestão da pandemia, precisamos reduzir os impactos sobre a saúde física e psíquica da gestante. Chamo a atenção para a liberdade de escolha quanto ao tipo de profilaxia para a Covid-19. Muitas gestantes não se sentem seguras para optar por inoculação de produtos injetáveis.
Por isso, têm sido pressionadas a serem inoculadas, sob pena de não receberem a assistência médica pré-natal pelo SUS. Este tipo de situação gera forte estresse, principalmente quando a gestante não tem condições financeiras de buscar acompanhamento obstétrico particular. Trata-se de ação iatrogênica cometida pelo médico obstetra do Serviço público? Afinal, é comprovada o efeito do estresse da gestante no desenvolvimento fetal.
“Realmente precisamos estar prestando atenção nos problemas de saúde mental durante a gravidez, porque eles não estão afetando somente as gestantes, mas parecem ter efeitos persistentes no bebê por meses, e provavelmente anos, à frente”, adicionou Limperopoulos.
“Se nós, como uma sociedade, podemos fazer mudanças para ajudar mulheres grávidas a ter os recursos que precisam e provê-las um ambiente seguro e solidário antes e durante a gestação, podemos provocar um impacto significativo na saúde das crianças”, disse Judith Carroll.
O sofrimento psicológico materno durante a gravidez está associado a resultados obstétricos adversos e déficits neuropsiquiátricos em crianças, levando a trajetórias alteradas do neurodesenvolvimento nas idades posteriores.
Reflita e auxilie outras pessoas a despertarem para esta necessidade.
Dra. Ana Cristina C. L. Malheiros
Links recomendados:
1. Dra. Ana Cristina faz alerta sobre estresse em gestantes causado por atendimento em serviços de saúde, com possível repercussão na formação fetal:
2."A gestante na visão da Antroposofia: contribuições para acompanhamento psicólogico integral":
3.Yoga para gestantes: conheça os benefícios:
https://namu.com.br/portal/corpo-mente/yoga/yoga-para-gestantes-conheca-os-beneficios/
