É impressionante o nível de comunicação que atingimos no séc. XXI, o grande avanço tecnológico que facilita o acesso a uma gama muito diversificada de informações. No entanto, nunca houve tanta proliferação de assuntos irrelevantes, opiniões contraditórias e notícias falaciosas.
Percebemos então, notoriamente, que ter instrumentos para exercer a comunicação, como celulares, computadores, internet e tantos outros, não necessariamente colabora para a boa qualidade do conteúdo comunicado e sua eficácia.
Sendo médica psiquiatra, tenho verificado aumento significativo dos casos de depressão, ansiedade, síndrome do pânico e outros. Observo vários efeitos relativos ao excessivo uso das redes sociais e das mídias digitais, principalmente quanto às três esferas do pensamento, sentimento e vontade.
Trazendo uma visão sucinta sobre este ponto, chamo à atenção ao fato de que a grande variedade de informações e contradições causa impacto sobre o pensar, com confusão e falta de discernimento, comparativamente como o que ocorre em um quadro de “intoxicação”.
Como consequência, o sentir também é atingido, gerando sensação de insegurança, irritabilidade ou ira, havendo grande instabilidade nas relações interpessoais, quer seja no campo familiar, social ou profissional.
Quando, então, o querer é atingido, ou há imobilismo, paralisia pelo medo ou há reatividade a todo e qualquer estímulo externo, e o agir no mundo se torna desordenado, tendo como colheita a frustração, a insatisfação.
O que nos falta perceber então, é que a comunicação é a capacidade de relacionar o mundo interior do ser humano com o mundo exterior. Para que seja bem sucedida, deve haver qualidade de forma e conteúdo, propósito claro para aquele que emite a informação (gesto, palavra...) e interesse e receptividade por parte do interlocutor.
Assim, há mais chance de se constituir o Diálogo* sincero, com a expressão em liberdade de pensamentos e sentimentos, em que os participantes poderão criar um consenso que permite edificar nova realidade.
Entretanto, atualmente a comunicação entre as pessoas está turbulenta, em grande parte porque a tecnologia foi colocada em lugar de supremacia, passando o ser humano a ter grande dependência das máquinas e softwares para sua vida cotidiana. O consumismo/materialismo, esfria o coração humano, fazendo com que perca a capacidade de acreditar, de ver além das aparências e ter ponderação.
É necessário sim, ter conhecimento do mundo natural, das características e leis da natureza, assim como do mundo virtual, das utilidades e riscos ligados à tecnologia. Porém, é imprescindível reavivar a relação com o mundo sobrenatural.**
Então, eu o convido para refletir. Nossa comunicação nesta “Torre de Babel” midiática tem sido caótica, primordialmente porque nos afasta do centro de equilíbrio e sabedoria, que é o coração, onde habita a nossa individualidade espiritual.
Quando ficamos à mercê do mundo físico-material e das ações de forças adversas ao desenvolvimento humano que atuam por meio da tecnologia, estaremo-nos submetendo ao consumismo/materialismo, que enrijece o pensamento e sentimento humanos, influenciando diretamente a vontade e o agir no mundo.
Quando buscamos reavivar a espiritualidade pessoal, a partir do coração caloroso e compassivo, nos tornamos mais centrados, equilibrados e capazes.
Somente quando a comunicação voltar a abranger e considerar a existência do mundo sobrenatural, estaremos mais abertos para a inspiração que certamente nos indica o melhor caminho a fim de dar um passo evolutivo como indivíduo e como humanidade.
A Vida lhe faz este convite!
Dra. Ana Cristina C. L. Malheiros
Links recomendados:
- Jacopo Zucchi - The Procession of St. Gregory:
https://www.christianiconography.info/sicily/gregoryProcessionZucchi.html
- *Dra. Ana Paula Cury, médica antroposófica em Diálogos - Acordos essenciais na escola (atenção especial à meditação para esta época de Micael e exercícios ao despertar e adormecer):
- São Gregório Magno e o corona vírus de seu tempo:
http://centrodombosco.org/2020/03/13/sao-gregorio-magno-e-o-corona-virus-do-seu-tempo/
**Há grandes exemplos na História, para nos mostrar que esta Verdade existe e nos encorajar a vivenciá-la como experiência pessoal. Celebrado em 04 de setembro, relembro São Gregório Magno (540-604) durante o período em que era Papa. Havia um cenário semelhante ao que vivenciamos hoje com a pandemia do coronavírus e a crise decorrente. À época, a Itália foi assolada por doenças, fome, agitação social e a onda de invasores. Entre 589 e 590, uma violenta epidemia de peste, depois de devastar o território bizantino no leste e o dos francos no oeste, semeou a morte e o terror na Península e atingiu a cidade de Roma. Os cidadãos romanos interpretaram essa epidemia como um castigo divino pela corrupção da cidade, sendo necessário arrependimento.
O Papa Gregório conclamou os romanos a seguir, contritos e penitentes, uma procissão de toda a população, dividida em sete cortejos, desde várias igrejas de Roma até à Basílica do Vaticano,orando a Deus que os defendesse das adversidades. Ao final da procissão, houve manifestação da resposta divina aos apelos conjuntos do Papa e dos romanos.