Para cuidar de crianças, é importante conhecer como elas são. Para isto ocorrer, nada melhor do que observá-las e acompanhá-las em seu animado dia.
Mas, com a gestão globalizada da pandemia, parece que nos afastamos desta possibilidade. Afinal, o distanciamento social conduz para o distanciamento humano. O uso de máscaras, incorporadas como acessório do vestuário, impede a fala espontânea e a expressão da fisionomia com seus traços característicos. Assim, vai sendo gerada uma atmosfera de desconfiança, de medo e de esfriamento.
Por egoísmo e sob o pretexto de cuidados com a saúde, muitos adultos estão contendo as crianças dentro de casas, apartamentos, sempre acompanhadas de tablets e celulares. Para manter sua própria zona de conforto mental, tendem a enredar a criança na teia do medo, da insegurança, dos rituais de higienização exagerados.
Talvez, sem perceber, repetem aqueles que mantêm pássaros cativos para lhes apreciar o canto, a plumagem, porém, não mais o voo.
Em que pesem a dor e perdas causadas nesta época, há grande oportunidade de revisão de pensamentos, sentimentos e atitudes.
Como médica psiquiatra, venho-lhes alertar: a grande maioria dos adultos que atendi, sofriam por acontecimentos do passado, principalmente na infância.
Portanto, peço em nome das crianças que estão sob seus cuidados: superem o medo, que lhes foi incutido na mente para torná-los dependentes.
Ousem buscar informações qualificadas para poderem romper com a prisão mental.
Desliguem a TV e ativem o cérebro, para emergirem do hipnotismo midiático e voltarem a pensar por si próprios.
Visitem urgentemente suas memórias e lembrem-se de como os antigos, com muito menos recurso, enfrentavam e superavam suas mazelas com vigor e determinação, dando a proporção certa para as viroses (doenças autolimitadas).
E, principalmente, tenham a coragem de amar, de conviver, de sonhar! Levem as crianças para a natureza, para correr, brincar, cantar, dançar.
Façam tudo isto com elas também para que a sua criança interior se manifeste em exuberante alegria e entusiasmo e o Sol volte a brilhar para os seus olhos.
Testemunhe por si mesmo o ciclo da vida. Repita muitas, muitas vezes e, assim, não restará mais poeira fina no seu coração. Estamos na colorida primavera e apreciar sua beleza tropical nos revitaliza.
Assim como o planeta tem seus ciclos, a vida humana tem suas fases e despertar da consciência é o passo inexorável que cabe a cada um de nós.
Recicle sua conduta, renove suas convicções, dispense a inutilidade e, com leveza, coerência e graça, siga em frente. Afinal, as crianças merecem crescer livres e felizes.
Dra. Ana Cristina C. L. Malheiros
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