1. Saúde Mental no Brasil pré-pandemia
2. Impacto sobre a Saúde Mental em adultos
3. E quanto à Saúde Mental dos adolescentes?
3.1 Pesquisa da Fiocruz aponta os impactos da pandemia na rotina dos adolescentes brasileiros
3.2 Artigo científico: Avaliação de Saúde Mental em estudantes adolescentes durante o distanciamento social e ensino à distância durante a pandemia de Covid-19 na Áustria – junho/2021
4. Quanto à atitude dos adultos diante da gestão da pandemia
5. Influência dos adultos sobre os adolescentes?
6. O que é “Coronafobia”?
7. Diante da situação atual, qual é o papel do psiquiatra?
8. Para nos inspirar (principalmente, para os jovens)
9. Links recomendados
1. Você já teve curiosidade de saber sobre Saúde Mental e Psiquiatria antes da pandemia?
Caso não saiba, já havia grande preocupação dos profissionais e gestores públicos com relação à Saúde Mental da população brasileira devido a dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre o Brasil em 2017. Em uma visão panorâmica, 5,8% da população, ou seja, cerca de 12 milhões de brasileiros, sofrem de depressão e 9,3 % da população, representados por 20 milhões de pessoas, sofrem de ansiedade.
Portanto, o Brasil ocupa o 5° lugar mundial em quadros de Depressão e o 1° lugar mundial em casos de Ansiedade.
Antes da pandemia, já existiam preocupações relacionadas às questões de saúde mental dos adolescentes, principalmente a respeito do aumento dos índices de comportamentos suicidas, bullying e cyber-bullying, abuso do uso de mídias sociais e isolamento social crescente entre os jovens.
Observando o momento atual, todos foram afetados, em maior ou menor grau, pela gestão da pandemia, devido à mudança de hábitos, tanto no ambiente doméstico, quanto no trabalho e lazer, sendo importante conhecer suas manifestações psíquicas.
2. Impacto sobre a Saúde Mental em adultos:
A partir das medidas adotadas pelos gestores e suas consequências no comportamento individual e social de indivíduos adultos, houve aumento de transtornos mentais, sendo evidenciados que:
- em 2020, o número de dias de afastamento por transtornos mentais aumentou 47% para cada mil funcionários;
- 34% dos fumantes aumentaram o consumo de cigarros ao dia;
- 17% das pessoas passaram a ingerir mais álcool;
- o tempo gasto em TV, computador e tablet aumentou em mais de uma hora por dia;
- houve redução de 30,4% para 12,6% do percentual de pessoas que realizam atividade física semanal.
(Pesquisa ConVid- Comportamento- FIOCRUZ em parceria com a UNICAMP e UFMG, em abril-maio/2020)
Diante desta condição, que exige adaptabilidade e desenvolvimento de novas habilidades, a resposta é individual e baseada na própria biografia, de acordo com o repertório de enfrentamento de situações críticas.
3. E quanto à saúde mental dos adolescentes?
A adolescência (12-18 anos) é uma fase do desenvolvimento humano diferenciada e com características próprias. As alterações hormonais e o crescimento do corpo físico (“estirão”) influenciam a autoestima e a aprovação da imagem corporal. Decorrem destes fatores a autoconfiança, as habilidades sociais e o desempenho escolar.
Diante do impacto da gestão da pandemia, torna-se mais importante ainda a avaliação das condições de saúde mental neste grupo, devido à sua vulnerabilidade. Portanto, veja abaixo os resultados de duas pesquisas sobre este tema:
3.1 Pesquisa da Fiocruz aponta os impactos da pandemia na rotina dos adolescentes brasileiros
Este trabalho investigou as mudanças na rotina, nos estilos de vida, nas relações com familiares e amigos, nas atividades escolares, nos cuidados à saúde e no estado de ânimo de 9.470 adolescentes entre 12 a 17 anos, que responderam a um questionário virtual, entre junho-setembro/2020. Conheça alguns dos resultados:
- 48,7% dos adolescentes têm sentido preocupação, nervosismo ou mau humor;
- Aumento do sedentarismo de 20,9% para 43,4%;
- 70% dos jovens de 16-17 anos passaram a ficar mais de 4 horas por dia em frente ao computador, tablet ou celular, além do tempo das aulas online;
- 23,9% dos adolescentes entre 12-17 anos começaram a ter problemas no sono;
- 59% sentiram dificuldades para se concentrar nas aulas a distância.
(resultados da ConVid Adolescentes – Pesquisa de Comportamentos, realizada pela FIOCRUZ em parceria com a UNICAMP e UFMG, com jovens de todo Brasil, de junho a setembro de 2020).
Para você compreender melhor este assunto, a Dra. Dolores Henriques, médica pediatra, esclarece sobre a intensificação de sintomas de ansiedade e comportamento evitativo no artigo “Saúde mental, isolamento social e home-schooling em adolescentes durante a pandemia”.
3.2 Avaliação de Saúde Mental em estudantes adolescentes durante o distanciamento social e ensino à distância durante a pandemia de Covid-19 na Áustria – junho/2021:
Em junho/2021, foi realizado estudo com 3.052 adolescentes, com idade entre 14 e 20 anos na Áustria. Foram utilizadas cinco diferentes avaliações relacionadas ao bem-estar, sintomas depressivos, sintomas de ansiedade, qualidade do sono e distúrbios alimentares.
Os resultados são preocupantes:
- 55% dos jovens apresentaram sintomas depressivos,
- 47% relataram sintomas de ansiedade,
- 22,8% tiveram insônia moderada,
- 59,5% apresentaram transtornos alimentares.
- A prevalência de ideação suicida nas últimas 2 semanas foi de 36,9% da amostra.
Observou-se também que houve associação entre o uso aumentado de telefones celulares e piora da saúde mental, ou seja, quanto mais horas diárias de uso de celulares, piores os índices de saúde mental dos adolescentes.
Assim, a partir destes resultados, podemos perceber a tendência dos adolescentes reagirem a medidas como “lockdown”, distanciamento social e ensino à distância, apresentando mudanças de conduta, como aumento do uso de tecnologia, relacionadas ao surgimento de sintomas depressivos e ansiosos e distúrbios alimentares.
4. Quanto à atitude dos adultos diante da gestão da pandemia:
A partir da observação médica, chamo a sua atenção para o fato de que toda ação externa, objetiva, provoca uma reação interna, subjetiva. Os estímulos exercidos pelas ações de gestão da pandemia e pelas notícias publicizadas pela mídia geram a resposta reativa no indivíduo, a partir do âmbito emocional.
No início da pandemia, as imagens que foram fartamente mostradas nos meios de comunicação eram chocantes e assustadoras e as previsões eram sombrias, com possibilidade de grande número de mortes. Muitos símbolos, palavras e imagens passaram a fazer parte do repertório do nosso dia-a-dia, como máscara, respirador, intubação, “lockdown”.
Então, pode-se afirmar que sofremos um estresse pós-traumático, coletivo, e que estes símbolos, palavras e imagens passaram a ser instrumentos para manter o tema “pandemia” sempre presente.
A reação que cada indivíduo apresentou diante desta forte vivência emocional depende de sua personalidade prévia, de seu repertório e metodologia de enfrentamento.
Caso tenha tido privação, adoecimentos e perdas de familiares, pode apresentar mais tendência ao medo, à obediência a todas as recomendações e à adaptação da rotina ao controle sistemático da higiene. Alguns permanecem até hoje sob grande tensão e se privam de atividades prazerosas que executavam antes.
Outros buscaram informações qualificadas, saíram da esfera do medo, mantiveram a prudência e foram mudando de conduta, retomando as atividades que exerciam antes da pandemia.
5. Influência dos adultos sobre os adolescentes?
Quanto mais os adultos apresentam dificuldade de elaborar estas circunstâncias causadas pela gestão da pandemia, mais intensamente os efeitos disto irão atingir os adolescentes. Estes têm menos recursos para enfrentar tamanho desafio, repercutindo em insegurança, tristeza e sensação de solidão.
Frequentemente, devido à desinformação, as famílias têm-se mantido sob o espectro do medo e, crianças e adolescentes, sendo impedidos de exercícios físicos, interação sócio-familiar e convívio escolar. Ocorre, por consequência, a supressão de elementos fundamentais, extremamente importantes para o desenvolvimento físico, intelectual e psicológico.
Os adolescentes, então, permanecem com baixa perspectiva de futuro e seu horizonte está preenchido por desesperança, acentuando a tendência aos sintomas psiquiátricos.
6. O que é “Coronafobia”?
Embora não oficial, tem sido utilizado o termo “coronafobia” para referir ao quadro de ansiedade ligado à pandemia.
Os sintomas principais são: medo exagerado de se contaminar; crises de pânico; comportamento evitativo (tende a evitar contato com outras pessoas), repetitivo e controlador (vigilância sobre o comportamento de terceiros, checagem de objetos, lavagem excessiva das mãos), alteração de pensamento (mantém ideia fixa com tema de contágio e doença).
Este quadro prejudica as relações interpessoais no âmbito familiar, social e profissional, causando sofrimento, estresse e piora do desempenho.
Nestes casos, torna-se necessário buscar o auxílio profissional, para a realização de consulta psiquiátrica presencial em ambiente seguro ou por teleatendimento.
7. Diante da situação atual, qual é o papel do psiquiatra?
O psiquiatra lida com a linguagem, símbolos, valores e comportamento, e ressalto que a pandemia está repleta destes elementos preenchendo o imaginário coletivo.
Além de diagnosticar e tratar, o papel do psiquiatra também abrange auxiliar o paciente a compreender o contexto em que vive. Portanto, é importante acolher, orientar e medicar os pacientes, se necessário, após a avaliação individual.
O sofrimento apresentado pelo paciente tem relação com a sua biografia e ajudá-lo a trazer à consciência as causas desta dor, faz parte da psicoterapia e caminho de recuperação.
Cada ser humano tem o direito de viver em liberdade, portanto, não aceite permanecer retido em uma prisão mental, cujas grades sejam o medo, a "zona de conforto" e a mentira.
Para superar os impactos causados em sua vida durante a pandemia, recomendo a busca de informação qualificada, tanto sobre outros meios de prevenção e tratamento, quanto sobre ativação da imunidade, para poder tomar decisões em liberdade e escolhendo, com consciência, os cuidados com a sua saúde.
8. Para nos inspirar (principalmente, para os jovens):
Prece dos Sinos Vespertinos
“Admirar o belo,
preservar o vero,
venerar o nobre,
decidir o bem:
conduz o homem,
na vida, a objetivos –
no agir, para o justo,
no sentir, para a paz,
no pensar, para a luz –
e o ensina a confiar
na presença divina
em tudo o que há:
na amplidão do universo,
no fundo da alma”.
Rudolf Steiner
9. Links recomendados:
a) Organização Mundial de Saúde-OMS. Depression and other common mental disorders: global health estimates [Internet]. Geneva: WHO; 2017[cited 2017 Nov 04]. Available from:
http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/254610/1/WHO-MSD-MER-2017.2-eng.pdf
b) “Aumento dos transtornos mentais durante a pandemia e seus desdobramentos na população de trabalhadores”
c) “Saúde mental, isolamento social e home-schooling em adolescentes durante a pandemia”.
d) Pesquisa da Fiocruz aponta os impactos da pandemia na rotina dos adolescentes brasileiros
e) “Saúde mental, isolamento social e home-schooling em adolescentes durante a pandemia”.
f) Artigo científico: Assessment of Mental Health of High School Students During Social Distancing and Remote Schooling During the COVID-19 Pandemic in Austria- junho/2021
https://jamanetwork.com/journals/jamanetworkopen/fullarticle/2781462
