Nas últimas décadas, a Psiquiatria tem apresentado avanços significativos relacionados à melhoria dos recursos terapêuticos, principalmente quanto à redução dos efeitos colaterais dos psicofármacos. Observa-se também que, do ponto-de-vista epidemiológico, anteriormente, estavam restritos ao atendimento psiquiátrico apenas os casos mais graves, tais como as psicoses. Atualmente, com o advento das doenças da modernidade, constatamos um grande aumento de quadros de depressão e ansiedade.
Diante desta necessidade profissional associação da Psiquiatria com a Antroposofia proporciona recursos técnicos que são aplicáveis na promoção da saúde e no tratamento de doenças agudas e crônicas. Nesta visão sobre o ser humano, percebemos a profunda relação entre o corpo físico e as emoções do indivíduo.
De forma simplificada, esta interação ao longo do tempo causa o estado de saúde ou de doença. Assim, as desordens orgânicas podem ser a base de quadros psíquicos. Exemplificando, a depressão pode ter como base a disfunção hepática. Também observamos que as emoções negativas podem contribuir para o surgimento de distúrbios físicos. Desta forma, a ansiedade persistente pode provocar o início de gastrite. Portanto, é importante cuidarmos do paciente de forma integral, sabendo utilizar a correlação entre a estrutura física e a dimensão emocional, para potencializar o tratamento, tornando-o mais eficaz.
Outra contribuição fundamental refere-se a Biografia Humana, posto que esta não transcorre aleatoriamente. O crescimento físico e o desenvolvimento psíquico são processos interligados ao longo do tempo em ritmo setenial, ou seja, de sete em sete anos o ser humano necessita alcançar certas metas físicas, emocionais e espirituais, conduzindo a evolução saudável da individualidade.
No transcurso da vida, ao ocorrerem adoecimentos físicos ou vivências dolorosas, torna-se necessário estimular o paciente a elaborar o sentido e o aprendizado contidos naqueles acontecimentos. Este despertar da consciência favorece a superação do sofrimento e a liberação da energia psíquica que estava retida no sintoma.
Para potencializar o cuidado, a medicação antroposófica utiliza elementos dos reinos mineral, vegetal e animal, em preparações dinamizadas. Pode ser prescrita para uso associado ou não à medicação alopática, inclusive psicofármacos e quimioterápicos.
Em geral, a medicação estimula as forças de auto-cura, viabilizando o processo psicoterápico, a redução de sintomas, o aumento da vitalidade e o equilíbrio emocional, fundamentais para o processo de recuperação física e de autoconscientização. Os recursos terapêuticos da Psiquiatria ampliada pela Antroposofia podem ser utilizados de forma abrangente na prevenção e promoção da saúde, estendendo-se à Oncologia e também aos Cuidados Paliativos.
Tanto pacientes, quanto seus familiares podem-se beneficiar da abordagem integral, em que se compreende a atuação recíproca entre o organismo e as emoções/psiquismo. Assim, iremos estimular hábitos físicos, emocionais e espirituais saudáveis, tanto na prevenção, quanto no tratamento de patologias crônicas como o câncer e a depressão. Considerando-se a Biografia Humana, abordaremos a fase de vida em que se encontra o paciente, podendo revisar e elaborar sua história, trazendo à tona o sentido do adoecimento em lugar dos sintomas.
Desta forma, motivamos a auto-superação e a resolução de conflitos íntimos e familiares, contribuindo para melhorias significativas na vida pessoal e sócio- familiar do indivíduo. Quanto ao uso de medicação psiquiátrica associada a medicação antroposófica ocorre um sinergismo, um efeito somatório que favorece a estabilização do humor, a redução da ansiedade, a revitalização e a autoconscientização. Na abordagem da Psiquiatria ampliada pela Antroposofia, estimulamos a participação ativa do paciente no processo terapêutico, principalmente na compreensão do significado da doença para, então, redirecionar a sua própria existência, considerando aspectos físicos/materiais, emocionais/psíquicos e espirituais.
Dra. Ana Cristina C. L. Malheiros
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