Nesta última semana, um assunto recorrentemente comentado foi a permanência das crianças e adolescentes em casa, devido à pandemia. Diante disso, voltemos nosso olhar sobre as crianças.
O que vemos?
Todas as crianças do mundo estão submetidas às nossas decisões, ao querer de adultos. Direta ou indiretamente, estão impedidas de ter uma vida com a normalidade da Infância, devido a decisões impostas a todos quanto a quarentena ou distanciamento social por medo do contágio por Covid-19.
As crianças estão confinadas, afastadas de outras crianças, de seus avós, de seu convívio escolar, sob uma atmosfera de insegurança coletiva. Então, vivemos uma condição completamente artificial. Baseada nas necessidades naturais da criança, poderemos refletir sobre mudanças prementes neste cenário.
E quais seriam as necessidades fundamentais da criança?
Todos sabemos que as crianças necessitam de área livre para brincar na natureza, para se movimentarem livremente. Como o convívio afetuoso com familiares e outras crianças é importante para seu desenvolvimento físico, emocional e intelectual. Este conhecimento não pode ser esquecido em favor de uma adaptação prolongada ao fechamento de escolas e faculdades. Esta tem sido uma agressão física e psicológica há milhares de crianças e jovens no mundo.
Então, vamos relembrar como age a criança em seu ambiente.
A criança saudável lida com o mundo, espontaneamente, com curiosidade e interesse pelas descobertas que vai fazendo e isso traz, então, e sentimento de Admiração por tudo que está em seu torno. Assim, a criança que brinca em liberdade, experimenta a alegria de viver. Ao receber o afeto dos pais e da família, vivenciando o aconchego e a proteção, passa a sentir Gratidão pela vida em plenitude de ser criança.
A partir da atitude dos adultos que a cercam, a criança é convidada aos rituais e orações, pois a alma infantil, naturalmente, tem este anseio. Com sua pureza e inocência, a criança percorre o belo caminho que a conduz à Devoção.
Este despertar progressivo, com adultos conscientes a conduzindo, essa vai nutrindo seu mundo interno e permitindo uma comunicação com o mundo espiritual. E isso é maravilhoso! Desta maneira, a criança prosseguirá as próximas etapas da vida, cultivando esse mundo interno, tornando-se um jovem e, depois, um adulto, preparado para vivenciar o Amor, a partir das três qualidades solares: Admiração, Gratidão e Devoção.
Portanto, chamo sua atenção quanto aos excessos cometidos em nome da Ciência e do Poder. A partir de agora, ao tentarmos oferecer às crianças o que lhes é necessário, precisaremos retomar a nossa vida social saudável.
Onde predomine a Verdade sobre a mentira, a Honestidade sobre a corrupção e a Coragem sobre o medo sim, poderá surgir o Amor também na alma dos adultos.
Por isso, digo, enfaticamente, que a infância pode salvar a humanidade.
Dra. Ana Cristina C. L. Malheiros
Recomendo a leitura:
Rudolf Steiner
“Com o egoísmo entrou o mal no mundo. Isso teve que ocorrer, pois o bem não pode ser compreendido sem o mal. Por meio dos triunfos do ser humano sobre si mesmo, o mal proporciona a possibilidade para o desabrochar do amor. [...] Mas o futuro da humanidade consistirá ainda em outra coisa além do amor. O aperfeiçoamento espiritual será, para o ser humano terrestre, a meta mais valiosa. [...] O aperfeiçoamento é algo por meio do qual queremos fortificar e estimular nosso ser, nossa personalidade. Mas devemos ver nosso valor para o mundo somente nos atos de amor, não nos atos de autoaperfeiçoamento. Quanto a isso, não podemos entregar-nos a nenhuma ilusão. [...] da sabedoria que alguém coloca a serviço do mundo, terá valor somente a porção que esteja impregnada de amor. A sabedoria que está submersa no amor, que impulsiona o mundo [...] exclui a mentira. Pois a mentira opõe-se aos fatos, e quem se coloca com amor dentro dos fatos não conhece a mentira. A mentira provém do egoísmo, sem exceção. Quando, por meio do amor, encontramos o caminho para a sabedoria, então penetramos, por meio da força crescente da superação, por meio do amor sem egoísmo, também na sabedoria. Com isso, o ser humano torna-se uma personalidade livre. O mal era o subterrâneo em que penetrou a luz do amor; é ela que torna reconhecível o sentido do mal, a posição do mal no mundo. A luz tornou-se reconhecível devido às trevas.”
Fonte: GA 143, palestra de 17/12/1912, “Amor, poder, sabedoria”, pp. 44-45.
