São inúmeros os desafios da educação à distância, adotada às pressas na quarentena, e, exatamente por suas consequências, cabe a nossa reflexão. Segundo a Unesco (agência do Sistema ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura) até 28/04/2020, mais de 190 países determinaram o fechamento de escolas e universidades por causa da pandemia. A interrupção das aulas presenciais mudou a rotina de 63 milhões de professores de educação básica.
A decisão atinge cerca de 1,6 bilhão de crianças e jovens, o que corresponde a 90,2% de todos os estudantes em todo o mundo.
Diante do impacto sobre a vida de estudantes, familiares, professores, funcionários, fornecedores e outros, são pertinentes duas perguntas principais:
-Sendo a pandemia do Covid-19 um fenômeno dinâmico, cabe neste momento reavaliar a necessidade da quarentena que foi imposta como medida inicial para combatê-la?
- Se 90% do ensino global pode ser feito à distância (EAD), não é necessário o Ensino presencial? Qual é o valor da escola e da universidade no processo de aprendizagem?
Quanto à Saúde Pública, no início da pandemia, somente havia como perspectiva o tratamento tardio, com internação em UTI, entubação do paciente e uso de respiradores, o que causava medo e ansiedade intensos, principalmente na população de risco. Conforme a pesquisa e a prática médica foram evoluindo, tornou-se evidente o consenso internacional quanto à importância de tratamento precoce da infecção por coronavírus, com uso de hidroxicloroquina, azitromicina e zinco associados, a partir do 2° ao 4° dias do início dos sintomas.
No Brasil, com a publicação do documento “ORIENTAÇÕES DO MINISTÉRIO DA SAÚDE PARA MANUSEIO MEDICAMENTOSO PRECOCE DE PACIENTES COM DIAGNÓSTICO DA COVID-19”, em 20/05/2020, o Ministério da Saúde põe fim a uma controvérsia que gerava angústia e insegurança, tanto para profissionais de Saúde, quanto para a população em geral.
Portanto, a partir da existência real de tratamento precoce para os casos sintomáticos, cabe revisar a decisão de quarentena horizontal e lockdown e propor novas diretrizes. Afinal, estas medidas radicais têm graves resultados na saúde física e mental e na vida laborativa e social. Quanto à comparação entre o Ensino à Distância e o Ensino Presencial, dada à sua complexidade, enfocarei os aspectos ligados à importância da Saúde relacionada à Educação.
Sabemos que o desenvolvimento do ser humano não ocorre de modo aleatório, sendo que na infância, adolescência e juventude surgem necessidades próprias de cada fase. Compreendendo que cada indivíduo traz em si potencialidades a serem despertadas, o convívio familiar e, posteriormente, escolar oferecem os ambientes propícios para a expressão destes talentos e habilidades.
Portanto, entendemos o processo de aprendizagem para além da capacidade intelectual/racional.
O desenvolvimento do corpo físico, das qualidades emocionais e psicológicas e o despertar do pensamento livre e consciente estão intrinsecamente ligados ao crescimento saudável da criança, do adolescente e do jovem.
O Professor não é apenas um transmissor de informações, assim como a escola/universidade não é somente uma estrutura física para se ter aulas. Esta visão restringe e empobrece o processo de aprendizagem, na utopia de que a tecnologia pode suprir completamente, com o uso da internet e videoaulas, as necessidades humanas para o pleno crescimento.
Então, este suposto “Projeto de Educação” está direcionado para estudantes que obedecem intelectualmente a um treinamento massificado, via web, com conteúdo hegemônico, sem margens para a expressão da individualidade?
Aponto em outra direção, completamente distinta, em que o convívio familiar permite a educação inicial da criança.
Com um ambiente físico apropriado e com amorosidade são criadas as condições para a criança vivenciar a devoção, admiração, gratidão, hábitos alimentares e de higiene, ritmo sono-vigília e se movimentar com equilíbrio e autonomia. Então, amplia-se o convívio social para a comunidade escolar, com novos vínculos afetivos e anseio e curiosidade de aprender.
A presença integral do Professor e as atividades partilhadas com os colegas trazem em si oportunidades riquíssimas de vivenciar a imitação, perseverança, frustração, superação, reflexão sobre erro e acerto em contínua experimentação que contribui para o desenvolvimento saudável da individualidade.
Com toda a certeza, a alegria, a criatividade e a Saúde vivem na comunidade escolar e acadêmica com vitalidade, afeto, movimento e liberdade.
Frente a esta experiência EAD global, inevitavelmente, a grande pergunta ecoa:
“Como pais, educadores e sociedade, vamos abrir mão, conscientemente, de tudo isto que conhecemos e valorizamos como condições para o desenvolvimento humano saudável?”
Dra. Ana Cristina C. L. Malheiros
Links recomendados:
- Princípios da Pedagogia Waldorf:
http://www.sab.org.br/portal/pedagogiawaldorf/369-principios-pedagogia-waldorf
- Recomendações do Ministério da Saúde acerca do tratamento precoce para pacientes com diagnóstico COVID-19:
- Primeiro Ministro da Austrália faz apelo para que as escolas sejam mantidas abertas:
